Tuesday, 26 February 2013

Boletim Semanal da Grécia #8 - 23 fevereiro 2013

Traduzido por Roberto Almeida

1. Greve geral, manifestações e assuntos trabalhistas


Na quarta-feira, 20 de fevereiro, aconteceu na Grécia a primeira greve geral do ano, convocada pela Confederação Geral de Trabalhadores Gregos (GSEE), e depois por outros sindicatos também. A greve foi realizada contra o corte iminente de acordos coletivos previstos no Memorando votado em outubro de 2012, as mobilizações forçadas de grevistas (como no caso dos metroviários de Atenas e estivadores), as medidas de austeridade, a repressão contra o sindicalismo e contra as mobilizações de trabalhadores.

Cerca de 70 mil pessoas participaram da manifestação em Atenas, e 7 mil em Salônica. Marchas foram realizadas em outras 15 cidades em todo o país.

Os agricultores participaram de forma massiva com tratores e bloquearam a estrada que liga Atenas a Salônica no trevo de Nikea, onde os protestos começaram há duas semanas. 

Em Atenas, foram registrados incidentes menores no final da marcha no bairro de Exárchia. Em Salônica, os trabalhadores da fábrica autogestionada VIOMET se colocaram na linha de frente da marcha. Em Heráklion aconteceram quatro prisões quando alguns manifestantes trataram de ocupar o edifício da administração local. Outros manifestantes viraram um carro da polícia.

Antes do início da marcha em Atenas, quatro membros da organização jovem do partido de esquerda NAR foram detidos por várias horas quando passavam pelo escritório da sigla, em Exárchia. Mais tarde, foram liberados pela Direção Geral da Polícia. Policiais declararam que ninguém havia dado ordens para prisões em frente ao escritório da organização política.

São esperados cortes de 30% na renda dos trabalhadores do setor privado. Além disso, pelo menos 25 mil empregados do setor bancário serão despedidos e àqueles que mantiverem o emprego serão aplicadas reduções salariais drásticas. É o resultado de fusões e mudanças iminentes apresentadas no acordo do setor.

Por outro lado, as mobilizações dos agricultores continuaram. No sábado passado eles voltaram a ocupar o trevo de Nikea, mas a polícia apareceu e houve momentos de tensão. Durante uma reunião da coordenação, assistida por mais de 20 coletivos de mobilização, ficou decidido que os protestos continuariam, apesar da insistência do governo em dizer que não será permitido bloquear as estradas. Em alguns casos, os agricultores distribuíram produtos agrícolas a motoristas que passavam pelos bloqueios.

Na terça-feira, 19 de fevereiro, jornalistas realizaram uma greve, apesar do boicote planejado pela administração da TV pública. Estava planejada uma paralisação de algumas horas, mas a TV ainda assim transmitiu imagens, sem voz, da visita do presidente francês François Hollande a Atenas, o que provocou críticas do sindicato de jornalistas e da comunidade jornalística.

2. Skuriés

Durante a madrugada de 17 de fevereiro ocorreu um ataque à companhia Ouro Grego em Skuriés de Jalkidiki, com o objetivo de sabotar suas instalações. O incidente causou, a princípio, bastante confusão, já que circulou o rumor de que dois guardas haviam sido presos e ameaçados de imolação. O rumor não foi confirmado pela polícia, mas foi amplamente reproduzido pelos meios de comunicação ligados ao governo. Finalmente, parecia se tratar de cerca de 50 pessoas que queimaram e destruíram parte da infraestrutura da empresa.

O bosque de Skuries está no centro da disputa entra a empresa Ouro Grego (um consórcio formado pela empresa canadense Eldorado Gold e a empresa grega Aktor) e a comunidade local. A companhia afirma que o projeto de construção de uma mina de ouro, prata e cobre trará benefícios para a região, com a criação de 5 mil postos de trabalho, entre diretos e indiretos. No entanto, a população local diz que o governo grego não se beneficiará e que a construção da mina terá um impacto ambiental negativo, colocando em perigo a economia local, baseada na agricultura, pecuária, pesca, apicultura, turismo e hotelaria.

As denúncias dos moradores estão baseadas em pesquisas científicas da Universidade Aristóteles de Salônica e pela Câmara Tecnológica da região da Macedônia. As pessoas que protestam contra o projeto foram alvo de uma agressão sem precedentes por parte da polícia, que protege os serviços básicos da empresa. Há denúncias de uso de balas de borracha.

Como resultado do ataque de domingo, a polícia fez uma série de prisões, especialmente de pessoas que protestam contra a construção da mina. Um dos presos em flagrante é membro do partido SYRIZA. O ativista se apresentou à justiça, mas foi liberado.

Os moradores reclamam que foram pedidos exames de DNA a alguns dos presos, que foram ameaçados com surras caso se negassem a realizá-los. Eles também se queixam de uma forte presença de patrulhas policiais nas vilas. Em um dos casos, a polícia procurou identificar os números de registro dos carros dos que participavam de uma reunião de coordenação das ações contra a mina.

3. Tentativa de reocupar a casa Skaramanga

Na sexta-feira, 15 de fevereiro, houve uma tentativa de reocupar a casa anarquista Skaramanga, tomada pela polícia no início deste ano. Um grupo de ativistas de vertentes anarquistas tentaram entrar na casa quebrando a porta. Com a chegada da polícia, aconteceram batalhas nas ruas no entorno da casa, e chegaram até Exárchia, onde continuaram por várias horas. Um total de 49 pessoas foram detidas e uma foi presa.

4. Aurora Dourada

O deputado do Aurora Dourada Yannis Lagos fez afirmações provocativas sobre a memória ao Holocausto nos colégios da Grécia. Lagos disse que as escolas elogiam os judeus e, ao mesmo tempo, omitem partes importantes da história grega. Ele também atacou o governo, tratando-o como “uma ferramenta do sionismo internacional”.

Na semana passada, outro deputado do Aurora Dourada iria a julgamento. Yannis Barbarussis é acusado de participar de um ataque contra imigrantes em um mercado público. O caso foi adiado pela ausência de seu advogado.

Por último, duas pessoas foram detidas em Atenas por posse de armas e uso de um carro com documentos roubados. Eles são membros de uma guarda informal de um deputado do Aurora Dourada e suas fotos e dados pessoais foram publicados pela polícia, já que provavelmente participaram em outros crimes.

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