Monday, 28 January 2013

Boletim semanal da Grécia #5 - 26.01.2013

Traduzido por Roberto Almeida


1. As mobilizações da semana

Na segunda-feira, 21 de janeiro, o tribunal de primeira instância de Atenas se declarou contra o mal uso ou abuso da greve dos trabalhadores do Metrô da capital grega. A greve, formada por movimentos dos trabalhadores das linhas de tram e de metrô, começou na quinta-feira, 17 de janeiro, como reação à destruição do contrato coletivo e dos cortes salariais, segundo as ordens de aplicação do Memorando. A resposta dos trabalhadores foi a convocação de novas greves para os dias 22 e 23 de janeiro, e após uma nova reunião na quarta-feira, a extensão da greve até o dia 24 de janeiro. Os trabalhadores de outros meios de transporte públicos convocaram paralisações em solidariedade para o mesmo dia.

A apelação ao tribunal foi feita pela companhia que gere o metrô, que depois da decisão ameaçou forçar os trabalhadores a não realizar a greve. Ao mesmo tempo, o ministro de Desenvolvimento e Transportes passou a insultar e acusar os trabalhadores e anunciou mudanças na legislação que rege as greves. O porta-voz do governo deixou aberta a possibilidade de despedir os grevistas e a aplicar sanções financeiras, afirmando que o sindicato desafiou ordens judiciais, uma declaração que encontrou a oposição de todos os sindicatos. Em tal eventualidade, os trabalhadores de todos os meios de transporte público continuarão a ação grevista, como decidido em reunião com a participação do sindicato de empregados do setor privado, do centro de trabalho de Atenas, da federação dos trabalhadores ferroviários e todos os sindicatos dos trabalhadores de transporte urbano.

Na quarta-feira foi realizada uma concentração de solidariedade na principal estação do metrô de Atenas, apoiada por dezenas de sindicatos. Durante a noite de 23 de janeiro, houve uma intensa especulação sobre uma possível reunião da polícia para intervir na greve, o que não foi confirmado.

Na quinta-feira, depois de uma longa reunião com o primeiro-ministro, o ministro do Desenvolvimento e Transportes, Costis Jatzidakis, anunciou que o governo irá ordenar a mobilização dos trabalhadores do metrô. Essa decisão provocou fortes reações por parte da SYRIZA, enquanto o partido Esquerda Democrática, que faz parte da coalizão governamental, declarou que não está de acordo. O partido socialista PASOK se disse favorável. Logo depois dessa decisão do governo, os sindicatos de outros meios de transporte públicos anunciaram paralisações, assim como o sindicato da companhia de eletricidade.

A mobilização ordenada pelo governo obriga aos funcionários que trabalhem apesar da greve. A desobediência significa penas que vão de 5 a 15 anos de prisão.

A mobilização ordenada começou às 5 da manhã de sexta-feira, quando foi publicado um boletim oficial do governo. Na sexta-feira foi planejada uma marcha e uma assembleia dos trabalhadores.

Durante toda a madrugada, a polícia distribuiu documentos oficiais aos grevistas que lhes obrigam a ir trabalhar. Ao amanhecer, policiais agiram no terminal ferroviário e prenderam três grevistas. Ainda cedo, na manhã de sexta-feira, a companhia tentou reativar os trens do metrô, mas técnicos de segurança avisaram que seria perigoso. Na sexta-feira se realizou uma reunião, um protesto e uma assembleia dos grevistas. Muitos outros sindicatos se uniram contra os trabalhadores do Metrô e também convocaram paralisações e greves: trabalhadores dos correios, professores e trabalhadores em outros meios de transporte público. Além disso, a empresa de ônibus e tróleibus pediu na justiça que a greve fosse declarada ilegal. No entanto, o tribunal considerou tudo dentro da legalidade. O sindicato do partido comunista, PAME, convocou hoje (sábado) uma marcha em solidariedade.

Na quarta-feira, 23 de janeiro, os empregados da emissora de rádio e TV SKAI também entraram em greve, em protesto contra mais cortes salariais impostos pelos donos da emissora. Os trabalhadores denunciam um clima de chantagem sobre contratos individuais, e lembra que foi o primeiro meio de comunicação a impor esse tipo de contrato. De fato, nesse momento, o empresário oferece a 19 trabalhadores contratos individuais com salários mais baixos em troca de um compromisso de não serem despedidos nos próximos 12 meses. Outros trabalhadores que não receberam essa proposta devem correr risco de serem despedidos, o que não foi confirmado.
Uma nova greve de 24 horas na radio e TV SKAI foi anunciada na quinta-feira, 24 de janeiro.

Os trabalhadores das docas de Elefsina começaram greves de 24 horas na quarta-feira, 23 de janeiro, em protesto por não terem recebido pagamentos durante um ano. Eles realizaram uma manifestação diante do Ministério do Trabalho. Um dos funcionários entrou em greve de fome. Está programada uma marcha para sexta-feira.

2. Explosão no centro comercial The Mall e ataques do governo contra a SYRIZA

Desde a explosão no centro comercial The Mall, nos arredores de Atenas, dia 20 de janeiro, o governo tem atacado de maneira coordenada a SYRIZA. Utilizando um video alterado com uma montagem, o governo acusa a SYRIZA de instigar o atentado. No video polêmico, que foi editado, o deputado da SYRIZA, Vangelis Diamantopoulos, faz um discurso que “vitimiza o centro comercial, quatro dias antes do ataque terrorista, e chama abertamente seus companheiros a pegar em armas”, como declarou o porta-voz do governo, Simos Kedikoglu. A descoberta de que o video havia sido adulterado provocou uma forte reação do deputado e do principal partido de oposição. No início da semana passada, o ministro da Ordem Pública, Nikos Dendias, disse em um programa de televisão que “o terrorismo nasce pela esquerda e pela anarquia”, mas também manifestou sua complacência porque “a SYRIZA aparentemente recorre à legalidade”. As declarações do ministro provocaram uma forte reação do representante da SYRIZA, Nikos Vutsis, que respondeu visivelmente incomodado e, em seguida, abandonou o estúdio.

3. Skuriés
Residentes de Jalkidiki bloqueiam desde o dia 18 de janeiro as estradas de acesso ao Monte Athos. O bloqueio é um protesto contra a suposta venda de área florestal para a empresa Eldorado Gold, que pertence ao Monastério Iviron, assim como contra o silêncio geral dos monastérios do Monte Athos sobre o tema polêmico da abertura de uma mineradora de ouro e cobre na montanha Kakavos. Mais especificamente, os moradores reclamam que o monastério Ivíron tem a intenção de vender 92,3 hectares de área florestal para a Eldorado Gold para transformá-la em área de resíduos industriais. Os moradores dizem que não abrirão as estradas enquanto não receberem uma garantia do Monte Athos de que não venderá a área. No início da tarde do dia 18, foi decidida uma reunião entre o comitê de moradores e representantes do Monte Athos, com a condição de que os bloqueios nas estradas fossem liberados. Os residentes negaram a oferta e mantiveram as estradas bloqueadas. Já foi decidida a construção de uma represa para depositar milhões de toneladas de resíduos. Há rumores de que a negociação foi fechada por meio da mediação do prefeito da vila Aristóteles e ex-ministro do governo PASOK, Cristos Pajtas, mas que ainda não foi confirmada.

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